Arte, Cultura e Meio Ambiente

Numa noite de fevereiro de 2016, um cinema badalado na Cidade do México estava lotado para a estreia do filme Os Sobreviventes dos Andes, de René Cardona. No meio da multidão, o colombiano Gabriel García Márquez avistou o colega peruano Mario Vargas Llosa. Com seus modos calientes, fez um gesto de abraçar o até então amigo — mas foi surpreendido por um cruzado de direita que o deixou por vários dias com o olho roxo. Ao morrer neste domingo 13, aos 89 anos, Vargas Llosa cumpriu sua parte numa promessa mútua feita por ambos os envolvidos no imbróglio: levou para o túmulo a razão misteriosa do soco mais famoso da história da literatura.

A saída de cena do autor de Conversa na Catedral (1969) e A Festa do Bode (2000) fez voltar à tona um episódio que mobilizou — em vão — a investigação de biógrafos, jornalistas e admiradores desde o fatídico nocaute. Artífice de monumentos do realismo mágico como Cem Anos de Solidão, Gabo morreu em 2014 sem descumprir, igualmente, sua parte. O que se sabe, de concreto, é que os dois ganhadores do Nobel e maiores nomes do chamado boom da literatura latino-americana nos anos 1960 e 70 nunca mais reataram a amizade após o escândalo, apesar de inúmeras tentativas — incluindo uma operação “deixa disso” empreendida por amigos em comum em 2007, na ocasião dos 80 anos de García Márquez.

Como era público e notório, a política era um campo divisivo para os dois mestres das letras. Gabo rezava pela cartilha comunista à moda antiga e tinha afeição por ditadores como Fidel Castro, de Cuba, e Daniel Ortega, da Nicarágua. Vargas Llosa até se empolgou com o regime cubano na juventude, mas logo se converteu em um liberal de quatro costados — foi inclusive o candidato da direita nas eleições presidenciais do Peru em 1990, quando perdeu para Alberto Fujimori. A despeito dessas diferenças, é improvável que as paixões ideológicas tenham sido a causa do soco. É mais certo que Vargas Llosa tenha se enfurecido por um motivo mais prosaico e pessoal.

A especulação mais verossímil nesse sentido aponta a então esposa de Vargas Llosa, Patricia, como o verdadeiro pomo da discórdia entre os dois. Notório mulherengo, o peruano estaria à época rompido com ela por uma traição –e Patricia teria sido acolhida por  Gabo e sua mulher, Mercedes, que eram amigos do casal. A partir daí, as narrativas variam um bocado, da versão que diz que Llosa se sentiu traído por García Márquez e esposa aconselharem Patricia a pedir o divórcio à hipótese — nunca confirmada — de que Gabo teria dado uma cantada na mulher alheia. Com a morte do homem que desferiu o soco, o mistério continuará a fascinar os fãs da boa literatura — e das fofocas.

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